Outono ao ritmo da terra

Ao Ritmo da Terra são fins de semana para experimentar viver ao ritmo das estações do ano a partir da oração, contemplação e reflexão e do cuidado da terra. Incluem trabalhos variados no campo como limpeza, manutenção, construção. Partilhamos o testemunho da Maria João Costa que participou no fim-de-semana Ao Ritmo da Terra – Outono que se realizou entre 10 e 12 de novembro:

Os meus avós nasceram no Alentejo. Desde cedo me contavam o quão duro e desvalorizado é o trabalho no campo. Ainda hoje vejo a história desse trabalho nas suas mãos grossas e doridas.
Quando me convidaram para o fim de semana “rezar ao ritmo da terra”, em que uma das principais atividades seria o trabalho na terra, fiquei um pouco de pé atrás. Pensei que seria só mais uma tentativa dos meninos da cidade irem “brincar” ao trabalho no campo. Sujar as unhas de terra, com umas beatices pelo meio.
Rapidamente me apercebi de que seria algo mais exigente do que isso. Foi-nos proposto uma entrega ao campo. À terra. A esta, dávamos o nosso trabalho e paciência, que por sua vez nos retribuia com sustento para o jantar.
Este trabalho exigia que deixássemos o nosso ritmo frenético da cidade e ouvíssemos cada folha a cair. Tínhamos acabado de criar a sinfonia perfeita entre o ser e a terra.
O fim de semana acabou. De volta ao dia a dia. A verdade é que, ainda não sabia como viver o que tinha aprendido ali. Até que dei por mim a caminhar com dores, enormes dores, nas costas, nas pernas nos pés, nas mãos. Já não conseguia andar depressa. Agradeço a este fim por isso.

Um testemunho da Maria João Costa, natural de Torres Vedras

Uma visita especial

Na tarde de 17 de maio recebemos uma visita muito especial na Capela do Bom Pastor da Casa Velha: os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude 2023, a Cruz e o Ícone que há dois anos entraram no nosso país e têm percorrido todas as Dioceses de Portugal. Que grande surpresa, não pedimos esta visita, foi-nos proposta, simplesmente e alegremente pelos guardiões dos símbolos na nossa zona. Que bênção!

Com o espanto e a alegria de Zaqueu ao ouvir dizer a Jesus “desce depressa porque hoje quero ficar em tua casa, o pequeno e pouco fiável Zaqueu, cobrador de impostos, agradecemos este encontro. Com muito pouco tempo de pré-aviso, com uma ronda de telefonemas e pedidos de “passa a palavra”, marcaram presença diferentes grupos da comunidade local: pessoas do Vale Travesso e arredores, os idosos e técnicos do Lar da Fundação Agostinho Albano de Almeida, um grupo do CRIO (Centro de Reabilitação e Integração de Ourém), as crianças da Escola da Floresta em Vale Travesso, amigos Casa Velha, entre outros. Talvez este seja um dos maiores frutos da JMJ, provocar o encontro, ser lugar de relação, geradora de comunhão, paz e cuidado uns com os outros, para que todos se possam levantar, tomar parte. 

Muitos de nós não conhecíamos o simbolismo da Cruz Peregrina! A Cruz peregrina, construída a propósito do Ano Santo, em 1983, foi confiada por João Paulo II aos jovens no Domingo de Ramos do ano seguinte, para que fosse levada por todo o mundo. Desde aí, a Cruz peregrina, feita em madeira, iniciou uma peregrinação que já a levou aos cinco continentes e a quase 90 países. Tem sido encarada como um verdadeiro sinal de fé.

Foi transportada a pé, de barco e até por meios pouco comuns como trenós, gruas ou tratores. Passou pela selva, visitou igrejas, centros de detenção juvenis, prisões, escolas, universidades, hospitais, monumentos e centros comerciais. No percurso enfrentou muitos obstáculos: desde greves aéreas a dificuldades de transporte, como a impossibilidade de viajar por não caber em nenhum dos aviões disponíveis.

Tem-se afirmado como um sinal de esperança em locais particularmente sensíveis. Em 1985, esteve em Praga, na atual República Checa, na altura em que a Europa estava dividida pela cortina de ferro, e foi aí sinal de comunhão com o Papa. Pouco depois do 11 de setembro de 2001, viajou até ao Ground Zero, em Nova Iorque, onde ocorreram os ataques terroristas que vitimaram quase 3000 pessoas. Passou também pelo Ruanda, em 2006, depois de o país ter sido assolado pela guerra civil.

E aqui estava ela hoje, recebida pelo Cristo Bom Pastor da Casa Velha, presente que acolhemos há uns anos, vindo do Iraque, dos escombros do Mosteiro de Santa Bárbara em Qaraqosh.

Foi com o coração compadecido e feliz que esta tarde rezámos juntos os “Mistérios JMJ” tomando o convite que o Papa Francisco nos lança: acordar, acolher Jesus na tua vida, caminhar com Ele pelas estradas do mundo, seguir os seus passos e a sua entrega até ao fim e mostrar a todos a alegria de crer e de viver. 

Que, como “Maria, que se levantou e partiu apressadamente” (este é o lema da JMJ2023), possamos guardar memória agradecida deste pequeno grande encontro que ligou tantas realidades, perto e longe, de ontem, de hoje, de amanhã. 

Louvado seja Deus!

Margarida Alvim

Casa Velha, 17 de Maio de 2023