Tive a sorte de nascer na Casa Velha, numa família que nos ajudou a crescer em boa terra. Na passagem para a vida adulta, indo para Lisboa para fazer os estudos universitários em Engenharia Florestal, conheci os Exercícios Espirituais de Santo Inácio . A minha vida não seria o que é hoje sem esta experiência, atrevo-me a dizer que a Casa Velha de hoje não existiria.
A nova Casa Velha surgiu a partir de um tempo de crise, da quinta e do território rural em que se insere, e também dos que dela cuidavam. Decidir cuidar da Casa Velha e das pessoas foi algo que foi sendo trabalhado com os Exercícios Espirituais que passei a fazer todos os anos. O sim à Casa Velha, tem gerado tantos sins, tanta vida, tantos sins de outros. Não é um sim voluntarista e assente nas nossas capacidades, mas sim uma resposta a um convite que nos é feito, na confiança de que da nossa parte cabe-nos cuidar, estar. Cuidar desta casa e desta Comunidade, com a consciência de que cuidamos o Todo.
Cuidar porque somos cuidados, a partir do espanto e reverência pela vida, a partir de uma experiência de reencontro e pacificação gera a esperança, a atenção, a alegria, (co)move-nos para a ação. É assim possível entender e viver a fragilidade que nos leva à interdependência, partilha, aprendendo a viver juntos, na diversidade de capacidades e limites. Mais do que o que alcançamos, descobrimos o valor do caminho que fazemos, sabendo esperar uns pelos outros.
A Casa Velha é um ponto de abrigo que nos lança ao caminho. Aqui está a Ecologia e Espiritualidade que experimentamos e que tentamos que outros vivam, através das diferentes atividades que propomos e acolhemos. Desde cedo que integramos no programa da casa Exercícios Espirituais e todos os anos participam cerca de 30 pessoas. Poder acompanhar e fazer caminho com outros faz parte hoje da minha missão na Casa Velha e é algo que me enche de alegria, como quem partilha um grande presente, que não pode não partilhar. Este Lugar é de facto catalisador de conversão ecológica, pela sua história, pela natureza, por todas as relações que aqui se tecem e são raiz para todos, a partir da qual cada um pode caminhar e cuidar da sua própria realidade, como sal da Terra.
Margarida Alvim
Cofundadora da Associação Casa Velha