Uma metáfora, por Joana Rigato

Diz-nos Jesus que o Reino de Deus é como um grão de mostarda que depois cresce, cresce, cresce até se tornar casa para os passarinhos que se vêm abrigar nos seus ramos frondosos. A Casa Velha, para mim, é o Reino de Deus já aqui, essa árvore aberta, gigante, de múltiplos ramos, onde a minha família encontra abrigo e se aninha, já na Casa do Pai.

Com o meu marido, sempre acreditámos e procurámos uma comunidade, atraídos pela ideia de uma vida partilhada, com ritmos pessoais que se vão adaptando aos ritmos dos outros, em que a nossa família entrelaçasse o seu quotidiano com o de outras pessoas e nos tivéssemos todos de ir desinstalando e apequenando para deixar lugar a vozes e sentires diferentes, com quem fazer caminho. Por outro lado, também sentimos o chamamento da natureza, que nos apazigua, abranda o nosso ritmo, espelha a criatividade do Criador, tornando-nos mais contemplativos e trazendo-nos saúde física e mental, quer a nós quer aos nossos filhos. Nunca nos sentimos tão plenos como quando estamos imersos em espaços naturais e fazemos coisas com as mãos, quando ganhamos tempo para os ritmos de outro tempo, ao cortar as amarras com as falsas necessidades da cidade.


A Casa Velha é uma realidade única para nós, na forma como alia esta forma comunitária de estar e caminhar, ao seu compromisso com este binómio “Natureza e Espiritualidade” que só agora começa a ser mote do modo de ser cristão nos dias de hoje, e que há mais de 10 anos é prática diária em Ourém. Ao longo dos anos, à medida que foi tomando forma, a Casa Velha tornou-se para nós um sinal da presença de Deus no mundo, pela forma como os intervenientes neste processo se foram colocando nas mãos do Pai e deixando-se guiar, com disponibilidade e paciência. Lembro-me do primeiro “Boletim de notícias” da Casa Velha que recebi por email e de como me comovi ao lê-lo. Haviam passado uns três ou quatro anos desde que tinha falado com a Margarida pela primeira vez acerca da sua escolha de começar a dividir-se entre Lisboa e o Vale Travesso, de acompanhar a sua mãe na casa de família e começar a sondar formas de aquela propriedade se poder colocar ao serviço de um chamamento que ela sentia mas ainda não sabia bem definir. Apressada e impulsiva como sou, surpreendia-me aquela calma, aquele tempo dado ao discernimento. Mas depois, ao ver as “Notícias” de 2010 e testemunhar como a Margarida, as suas irmãs, e tanta gente de quem sempre se rodeou, comunitariamente, haviam sido instrumento da criação do Reino de Deus na terra – pois o projeto florescerá, ramificara-se, dera muito fruto – fui invadida por uma sensação de reverência e de tremor. Desde então, continua a ser um privilégio ver isto a acontecer e ver como a Casa Velha pareceu antecipar as preocupações ecologistas do Papa Francisco e da Companhia de Jesus, sendo sinal profético de como essas preocupações podem guiar uma obra de Deus.


A Casa Velha é o lugar feliz dos meus filhos, que perguntam sempre quando é que há mais um “Rezar no Campo” e que, morando no centro de Lisboa, no meio de prédios, sonham ir viver para o meio da natureza porque sabem a alegria que isso lhes traz. É um guia espiritual para mim e o meu marido, que recentemente nos juntámos à “Comunidade Casa Velha” de Lisboa, para aprofundar os seus pilares (“viver abertos e disponíveis”, “viver agradecidos”, “viver com pouca tralha”, etc.) na nossa vida quotidiana na cidade. É, ainda, algo que me enche de esperança, quando às vezes me parece que a Humanidade e o planeta estão demasiado perdidos, demasiado embrenhados numa corrida delirante em direção a um precipício para poderem arrepiar caminho e recuperar. Nessas horas de desesperança, surge a Casa Velha como candeia bem visível para nos alumiar a todos, e nos fazer acreditar que Deus está connosco e providencia, falando a quem sabe escutar e “sabe esperar” (outro dos pilares tão ricos de sabedoria que a Casa Velha tem introduzido na minha vida).
A gratidão que sinto por esta Casa é a gratidão de quem encontra sombra e reparo, debaixo daquela árvore que Jesus prometeu, aquela em cujos ramos vêm pousar as aves do céu.