Um poema, por João Maria Carvalho

Os Dias Atravessados passaram por nós sem marcas de pressa
passaram por nós e estávamos desamparados:
olhávamos ao fundo áleas de árvores que nunca plantámos
(como seria bom colher o tempo com os próprios dedos)
e passavam e passavam, incólumes e tão longos
longe de nós esquecê-los ao fim de todos estes anos
atravessamo-los uma e outra vez, o mais disciplinado pescador
pés descalços, calça dobrada, tudo para os ouvir passar
assim as árvores selvagens quando faz escuro, e passa o vento frágil por elas.