Este foi o último ano de 6 anos do projeto EDxperimentar, e foi um ano particularmente rico, em que finalmente se colheram vários frutos do que se semeou ao longo dos anos de trabalho com as escolas. Neste artigo vamos falar dos momentos que mais marcaram o ano.
Entre fevereiro e Março as três turmas do 9º ano do Colégio do Sagrado Coração de Maria prepararam a conversa online com as Filipinas, Bendum, que viria a acontecer em Abril.
A conversa focou-se nas tradições rurais, um tema muito certeiro, que permitiu uma partilha muito, muito, rica!

(Fotografia 1: Agradecimento final)
Antes de mais, vimos o vídeo ( https://www.youtube.com/watch?v=y-mi4cdiJ8U ), feito pelos alunos do Apu Palamgwan Center, para percebermos melhor com quem íamos falar… Alunos duma comunidade indígena, com uma vida rural, nas Filipinas! Começámos logo a perceber os contrastes entre a nossa vida e a deles.
Para prepararmos a nossa apresentação aos alunos de Bendum, cada aluno começou por escrever num post-it o seu lugar preferido de Fátima, ou de outro sítio que trazia na memória. Seria a partir desses lugares, ou pessoas e atividades que nos são queridas, que nos iriamos apresentar aos alunos do outro lado do mundo.

(Fotografia 2: Alunos de Bendum a cantar e dançar um cântico tradicional)
Quisemos também incluir, na nossa apresentação sobre Fátima, informações sobre os desafios da região : falámos dos incêndios, do abandono rural, do uso da tecnologia que nos distancia da natureza e das pessoas, e de muitos outros temas.
E por fim, procurámos identificar as antigas tradições rurais da região – trabalhos no campo, celebrações, canções, danças -, praticadas ainda por muitos dos nossos avós… Em casa, alguns alunos entrevistaram os mais velhos, outros procuraram objetos (ferramentas agrícolas, jogos, vestes…!), e outros, ainda, ensaiaram cantos e danças do rancho!

(Fotografia 3: Aluna de Fátima a mostrar o saco do pão por Deus e a explicar a tradição)
No dia da conversa foi uma alegria não só partilhar a nossa vida em Fátima, mas também ouvir os alunos de Bendum cantar os seus cânticos tradicionais, conhecer as suas histórias pessoais, em ouvi-los expressar a sua alegria por viverem juntos na comunidade, na terra que amam e conhecem intimamente.
Falaram na reverência e gratidão pela terra, no alegria da vida em comunidade e do sentido de pertença, na identidade e valores indígenas.

(Fotografia 4: aluno de Bendum a explicar o simbolismo das cores do colar usado em celebrações)
Os alunos de Fátima, na avaliação escreveram frases que não resistimos em transcrever:
“Existem muitas coisas da cultura rural que as pessoas não conhecem mas que têm muita importância para o nosso dia-a-dia”.
“Precisamos da agricultura e do mundo rural, -não comemos cimento!”,- “é a base de tudo”.
“Temos de a valorizar mais e devemo-nos preocupar mais com ela, conhecer e preservar os conhecimentos e valores antigos muito bons”.
“É magico conhecer outras culturas, tão diferentes da nossa… Fez me perceber que o mundo é tão pequeno e mesmo assim consegue ser tão incrível!!
“Percebi que nem todas as pessoas vivem da mesma maneira”, “que ha maneiras de lidar com a realidade totalmente diferentes da nossa.”, “que posso aprender muito com pessoas de sítios diferentes“, “que existe um mundo muito mais vasto lá fora do que as tecnologias nos mostram!”.
“Senti muita curiosidade e vontade de descobrir mais”
“A nossa história e cultura faz de nós, hoje e sempre, únicos. Partilharmos culturas fez me sentir honrada”

(Fotografia 5: Despedida)
Entre 26 e 28 de fevereiro, 7 alunos (12º ano) da Escola Secundária do Lumiar e 12 alunos (11º ano) da Escola Secundária Jácome Ratton (Tomar!), acompanhados por um(a) professor(a) de cada escola estiveram na Casa Velha, a trabalhar os Direitos Humanos.

Na manhã de 27, começámos por aproveitar a aberta (não choveu por uma hora!), e demos um passeio pela Casa Velha, e, como já é tradição nestes encontros, recolhemos, por duplas, uma textura, uma cor, um som e um cheiro (sem ajudas de telemóveis!).
Para aprender sobre Direitos Humanos começámos por perguntar o que é necessário para ter uma vida inteira, digna. Seguindo uma metáfora de flor, perguntámos; quais são as pétalas de uma vida digna? De que maneira estamos interligados e podemos apoiar ou impedir o florescimento uns dos outros? Não só dos que estão mais perto de mim, mas – se tudo está ligado – do meu país, do mundo?

Na tarde de 27, os alunos fizeram trabalhos de sensibilização à volta dos direitos humanos que mais os tocavam – a educação de qualidade, o emprego justo e a igualdade de género, o direito à liberdade de expressão e religião, o direito à Saúde, à Alimentação e ao Vestuário, e o direito à Habitação.

Formando grupos de acordo com os direitos que escolheram, fizeram poemas, canções, quizzes, teatros, debates, e no final, apresentaram ao grupo inteiro.

Na manhã de 28, a partir da reflexão e dos trabalhos dos dias anteriores, foram desafiados a montar uma exposição que pudessem levar de volta para as suas escolas e sensibilizar quem a visse.

Fizeram então um estendal de T-shirts que representavam os Direitos Humanos que devem (re)vestir cada ser humano, que devemos garantir uns aos outros.

Aproveitando os trabalhos anteriores, ilustraram as suas ideias nas T-shirts, escreveram as letras das músicas, e mais tarde viriam a acrescentar à exposição o quizz realizado sobre vários dos Direito trabalhados em Portugal e no mundo.

Um mês depois a exposição foi montada com toda a turma (incluindo alunos que não vieram à Casa Velha) na escola de Tomar, e escreveram na folha de sala o seguinte:
“Termos participado nesta atividade foi como vestir uma destas T-shirts que pintámos. Pois sentimo-nos envolvidos, interpelados, cativados, para aprender mais sobre os Direitos Humanos.
Fomos motivados porque pudemos ser nós próprios a investigar,
Fomos inspirados porque saímos da nossa zona de conforto, através de expressão pela arte, de proximidade à natureza e, sobretudo, de novas amizades.
Aprendemos muito sobre os Direitos Humanos nas relações que vivemos: foi essencial ultrapassar preconceitos e valorizar o que cada um(a) tinha de único. Aí, quando acolhemos realmente a diversidade, começamos a aprender uns com os outros, construimos união, e o respeito da dignidade de cada um(a).
Apesar de todos merecermos os mesmos direitos, ainda há no nosso século muitos direitos que são violados.
É por isso que a defesa dos direitos, a luta, e a comunicação dos mesmos é importante.
E é por isso que fizemos esta exposição, que te convidamos a explorar, além do quiz, que te permitirá descobrir mais sobre os direitos humanos em Portugal.”

Entre 22 e 23 de abril, tivemos, pela primeira vez, três escolas de perto de Ourém na Casa Velha! Este foi o último dos 6 maravilhosos Laboratórios Juvenis que fomos tendo o privilégio de proporcionar ao longo dos 3 anos do EDxperimentar II. Vieram 19 alunos do 9º ano: 6 do Colégio do Sagrado Coração de Maria, 6 da Secundária de Ourém, e 7 da EB da Freixianda, acompanhados por professores de cada escola.
Este laboratório foi sobre o Cuidado da Casa Comum, num processo guiado pelos 6 pilares da Casa Velha. O nome e tema do laboratório foi “Da Minha Terra à Nossa Terra”.

Inspirados pelo pilar “Viver Abertos e Disponíveis”, começámos por ir até ao Anfiteatro e fizemos, vendados, uma meditação que nos ligou à vida que nos rodeia e sustenta. Por duplas partilhámos as memórias de outros lugares que nos surgiram, e que nos sustentam de alguma forma.

Ouvimos esta adaptação do parágrafo 84 da Laudato Si
“Todo o universo material é uma linguagem do [seu] amor, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia [do Universo]. A história [de cada um] desenrola-se sempre num espaço geográfico que se torna um sinal muito pessoal, e cada um de nós guarda na memória lugares cuja lembrança nos faz muito bem. Quem cresceu no meio de montes, quem na infância se sentava junto do riacho a beber, ou quem jogava numa praça do seu bairro, quando volta a esses lugares sente-se chamado a recuperar a sua própria identidade.”

No fim, como forma de agradecer o que tínhamos partilhado, juntámos num mural pequenos símbolos (pedras, ramos, flores, apanhadas no caminho) do que tínhamos recordado.

Inspirados então no pilar “viver em verdade”, fizemos juntos um “Climate Fresk”, que nos permitiu olhar para a crise climática nas suas dimensões naturais e sociais, perceber melhor a sua raiz humana, e perguntamo-nos como podíamos viver mais “em comunhão” e “com pouca tralha”.
Foi lançado o desafio a cada um de escrever num papel um compromisso, e de o acrescentar ao mural do agradecimento.
Da gratidão nasce a intenção de cuidar! E foi também nesta linha que se formaram 5 equipas, que, durante estes dois dias, foram muito diligentes a cuidar das tarefas necessárias.

(Climate Fresk)
Na manhã seguinte trabalhámos juntos no jardim-labirinto da Casa Velha, que outros grupos, em anos anteriores, já ajudaram a plantar! E porque, como sempre na Natureza, depois de semear é preciso esperar, mas numa espera vigilante e ativa, que vai garantindo que a planta recebe a luz e os nutrientes que precisa, tinha chegado a hora de limpar o denso mato crescido no jardim. É (também) isto “Viver sabendo esperar”!

(Fotografia de Grupo no anfiteatro, ao lado do jardim labirinto)
Além de lançar as mãos à terra, “lançou-se” também a imaginação à terra: “Comprometidos e Atentos”, pensando nos lugares e pessoas queridos, e nas realidades que mais os afetam, fizeram-se desenhos, teatros, e mesmo uma música, de sensibilização sobre esses lugares.
Divididos em 5 grupos, os alunos trabalharam sobre a poupança de água, o desperdício de energia, o hiper-consumo, a importância de transportes alternativos aos carros, e os incêndios florestais.

Trabalhar com várias escolas da região foi particularmente importante, e permitiu-nos dar mais um passo para a Casa Velha ser um lugar de portas abertas para as escolas, onde as crianças e adolescentes têm um espaço onde são acolhidas e fazem parte, um espaço que sentem como sendo delas, onde se podem relacionar com confiança e liberdade, respeito e responsabilidade.
O projeto acaba este ano, mas as relações tecidas e o desejo e planos de caminho conjunto continuam vivas.